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Genética da dependência Química

A dependência química é classificada como modelo de doença complexa, pois não depende de um único gene responsável pelo surgimento do transtorno, pelo contrário o efeito genético se origina de vários genes atuando em conjunto, o que produz situações de vulnerabilidade que em conjunto com os fatores ambientais produzem o fenótipo final, neste caso a dependência química.

O que é Polimorfismo e qual a sua influência na dependência química?

Polimorfismos são variações na sequência de bases de um determinado gene que podem acarretar diferenças em sua expressão e, por consequência, variações funcionais da proteína por ele gerada. São sutis variações na sequência do DNA, lugares onde os indivíduos diferem em apenas uma única letra do código genético[1].

A relação do polimorfismo com a dependência química se dá pelas variações polimórficas encontradas nos cinco tipos de receptores do Sistema Dopaminérgico (envolvido no sistema de recompensa cerebral).

O sistema dopaminérgico é o mais estudado dentre os trajetos envolvidos no sistema de recompensa cerebral, com destaque para a investigação de variações polimórficas nos genes de seus cinco tipos de receptores (DRD1; DRD2;DRD3; DRD4 e DRD5). Estes “defeitos” genéticos estão associados com diversos comportamentos impulsivos, incluindo abuso de drogas[2].

Evidências científicas demonstram que mutações em alguns receptores cerebrais tornam o indivíduo predisposto a dependência Química. O receptor dopaminérgico D4 (DRD4) por exemplo e a enzima chamada COMT, quando defeituosas, são fatores independentes para o nível de consumo de drogas.

De acordo com Vandenbergh et al. os estudos de interação com os alelos dos genes dopaminérgico D4 e COMT mostraram que eles são preditores independentes para o uso de múltiplas substâncias.

Qual a influência genética no alcoolismo?

Os estudos com famílias tem demonstrado a agregação familiar para dependência química do álcool, encontrando aumento na prevalência de 3 a 4 vezes em parentes de primeiro grau do que na população em geral.

O que foi observado nos estudos relacionados com a dependência de álcool é que existe ligação com a dependência de álcool entre regiões dos cromossomos um e sete. A tolerância ao álcool estaria ligada a regiões nos cromossomos um, seis e vinte e dois. A idade de início estaria ligada a região do cromossomo nove[3].

Mutações do gene DRD4 também estão envolvidos ainda na modulação da intensidade da fissura pelo álcool.

No entanto, a vulnerabilidade genética não é fator determinante para a Dependência Química. Mesmo o indivíduo com uma vulnerabilidade genética não necessariamente vai desenvolver a dependência, o que determina é o desenvolvimento epigênico, ou seja, o impacto do meio em que cada indivíduo vive nestes fatores genéticos. Se por exemplo, um indivíduo que tem uma mutação genética que o predispõe à adição estiver inserido em um ambiente desorganizado, convivendo com pessoas usuárias de drogas, álcool ou cigarro e com relações sociais e familiares disfuncionais, sua chance de desenvolver a dependência aumenta.

Durante todo o programa terapêutico oferecido pela Clínica Fiori, esclarecemos aos pacientes e as famílias, que a“Síndrome da deficiência da recompensa” refere-se a pessoas que utilizam o sistema de recompensa(prazer) de maneira não adaptativa, em função de genes que alteram várias etapas do sistema dopaminérgico (produção, transporte, receptores e metabolização).

Somente com o entendimento de que indivíduos susceptíveis a dependência de drogas têm hipoatividade dopaminérgica, levando-os a buscarem reforços nas drogas, talvez mais intensos, é que entendemos que não podemos julgar os adictos como pessoas com “defeito de caráter” ou que não interrompem o uso por “falta de vontade própria” ou “fraqueza” etc.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Kandel, D. and E. Kandel, The Gateway Hypothesis of substance abuse: developmental, biological and societal perspectives. Acta Paediatrica, 2015. 104(2): p. 130-137.
2. Roman, T., et al., No association between crack-cocaine dependence and functional intronic polymorphism at dopamine D2 receptor gene. Drug & Alcohol Dependence, 2014. 140: p. e188.
3. Rietschel, M. and J. Treutlein, The genetics of alcohol dependence. Annals of the New York Academy of Sciences, 2013. 1282(1): p. 39-70.