Os Alucinógenos

Considerações iniciais

Os alucinógenos são um grupo de substâncias psicoativas caracterizadas por causarem em quem as consome:

• Alterações do estado de consciência
• Alterações e distorções da senso percepção
• Alterações do pensamento
• Alterações do humor

São também conhecidas como:

• Drogas psicomiméticas, pois podem induzir sintomas semelhantes aos da esquizofrenia, ou mesmo do transtorno bipolar.
• Drogas psicodélicas, pois podem induzir alterações senso perceptivas, afetivas e do julgamento, que só podem ser vividas em sonhos, ou então, em transes de rituais religiosos.

Epidemiologia

Em 1991, 8,1 % da população americana usaram drogas alucinógenas pelo menos uma vez no ano. O grupo de jovens de 26 a 34 anos de idade liderou o uso deste tipo de drogas. No Brasil, segundo dados da SENAD, a Secretaria Nacional Antidrogas, 0,6 % da população brasileira consumiu drogas alucinógenas.

Pequeno histórico

Os alucinógenos naturais são usados desde o passado remoto para fins religiosos, recreacionais ou em rituais, com o objetivo de produzir experiências místicas. Quem sintetizou o LSD foi o químico suíço Albert Hoffman em 1938 e somente em 1943, ao ingeri-lo acidentalmente, Hoffman viveu seus efeitos alucinógenos, e, a partir de então, passou a ser usado como droga.

Durante a liberação social, sexual e mesmo cultural, da década de 60, o uso de alucinógenos foi bastante difundido. Tanto assim que o LSD, os cogumelos alucinógenos, a psilocibina e a mescalina passaram até a serem cogitados como possíveis auxiliares da psicoterapia, com o objetivo de promover “insight” nas sessões terapêuticas. Porém, devido à imprevisibilidade de seus efeitos nos pacientes, deixaram rapidamente de ser empregados para fins terapêuticos, passando a serem proibidos de comercialização e considerados como drogas ilegais.

No início da década de 70, o MDMA, metilenodioximetanfetamina, uma anfetamina modificada, passou a ser investigada como droga facilitadora da psicoterapia, e também, por causar efeitos indesejáveis nos pacientes, foi abandonada, e depois considerada ilegal. Hoje é conhecida como droga do amor, êxtase ou ecstasy droga muito usada em festas raves e em baladas de jovens e de adolescentes.

Classificação

Os alucinógenos podem ser classificados em:

• Naturais
• Sintéticos

Alucinógenos naturais

São conhecidas aproximadamente 50 espécies de plantas que possuem propriedades alucinógenas, e no Brasil cerca de umas dez espécies de alucinógenos naturais, que são consumidas para diversos objetivos e finalidades.

As principais plantas brasileiras com propriedades alucinógenas são:

• Os cogumelos alucinógenos
• A jurema
• O cocapi e a chacrona, produtos principais do chá do Santo Daime, usado no culto da união vegetal.

Outras plantas alucinógenas bastante usadas no mundo são:

A Psilocibina: com fórmula química dimetil-4-fosforiltriptamina, é obtida a partir da “Psilocybe mexicana,” e, mais outras, 100 espécies relacionadas aos mesmos tipos destes cogumelos.

A Mescalina: com fórmula química 3,4,5-trimetoxifeniletilamina, é obtida a partir do cactopeyote ou mesial, de nome científico, “LophophoraWilliamsii, bastante usada em cerimônias e rituais religiosos pelos indígenas da América do Norte.

Alucinógenos sintéticos

As principais substâncias alucinógenas sintetizadas artificialmente são o LSD, o MDMA ou o ecstasy, o DMT e os anticolinérgicos.

O LSD, de fórmula química, dietil-amida do ácido lisérgico é considerado um dos mais potentes dos alucinógenos. Foi sintetizado em 1938, a partir de um fungo conhecido como “ergot” (“Clavicepspurpurea”). O LSD é incolor, inodoro e possui propriedades psicoativas somente na sua forma isômera d-LSD.

Os derivados anfetamínicos, também conhecidos como “designer drugs” e, entre elas, se destacam:

O Ecstasy, que é um derivado anfetamínico, possui fórmula química 3,4-metilenodioximetanfetamina, foi sintetizado em 1914 pela Merck, na Alemanha. É bastante consumido em festas raves, discotecas e danceterias, baladas de jovens, nas quais prevalece a música “techno”, e onde é vendido e consumido livremente, por grande parte dos seus frequentadores. Alguns usuários acreditam que o “ecstasy” possa possuir propriedades afrodisíacas, daí ser chamado de droga do amor, fato que nunca foi confirmado por estudos médicos. O que se observa, na realidade, com os usuários e usuárias, é uma dificuldade imensa para se atingir o orgasmo e a ejaculação. Muitos até relatam que passam a ter, com o uso do MDMA, ejaculação precoce.

Além de ser alucinógeno, o MDMA é também uma potente droga estimulante, com efeitos semelhantes aos da cocaína. Causa aos consumidores: boca seca, sudorese intensa, bruxismo, aumento da frequência cardíaca, aumento da pressão arterial, náuseas e vômitos, alucinações visuais e auditivas.

Pode causar morte por elevação da temperatura corpórea, que chega a atingir valores acima de 42 º C, seguida de convulsões e insuficiência renal, causada pelo consumo exagerado de água. A elevação da temperatura do corpo e o desconforto que traz ao usuário, o obrigam a tomar até quatro litros de água durante o consumo da droga.

O uso do MDMA pode também causar nos usuários: fadiga, depressão e ansiedade, visão turva, manchas roxas na pele, movimentos descontrolados da cabeça e do pescoço, inapetência, dificuldades respiratórias. Usuários e dependentes de longo prazo da droga apresentam apodrecimento dos dentes e pele quebradiça.

O custo no Brasil de uma pílula de ecstasy no ano 2005 é de cerca de R$ 30,00 a 50,00, ou seja, de US$ 15,00 a 25,00, bem menor que aquele de há cerca de 10 anos, quando chegou a custar US$ 100,00 por pílula.

O MDA, de fórmula química 3,4-metilenodioxianfetamina, foi sintetizado pela primeira vez em 1910, e bastante usado entre os anos de 1960 e 1970. Difere do MDMA, o ecstasy pela falta de um grupo metil.

MDE ou MDEA que é um alucinógeno não muito consumido, nem muito popular, é conhecido como “Eve”. Muitos o consideram como uma versão mais fraca e menos ativa do MDMA ou ecstasy.

DMT de fórmula química dimetiltriptamina é um alucinógeno obtido pela manipulação das sementes da “Piptadenia peregrina”.

PCP ou fenciclina, também conhecida como pó de anjo, foi sintetizada na década de 50 para ser usada como anestésico. PCP é o diminutivo de PeacePill ou pílula da paz, sendo usado como droga coadjuvante de outras drogas, pois aumenta os efeitos destas nos circuitos de recompensa cerebral. O PCP pode ser ingerido oralmente ou fumado juntamente com maconha. Seu tempo de ação é longo, por ser solúvel nas gorduras do corpo humano, podendo durar até cinco ou mais dias.

Seus efeitos físicos são: falta de coordenação motora, elevação da pressão sanguínea, vertigens, elevação da freqüência cardíaca nistagmo, ou seja, movimentos involuntários dos olhos, salivação, náuseas, vômitos, diminuição do controle sobre os esfíncteres.

Seus efeitos psicológicos principais são: diminuição das percepções, paranóia, perdas rápidas da memória, agressividade, comportamentos de violência e perda de sensação de dor.

A recuperação dos efeitos do PCP sobre o corpo humano é lenta e gradual, mas pode ser total.

Anticolinérgicos: são substâncias que bloqueiam a ação da acetilcolina no SNC (Sistema Nervoso Central) e, em doses elevadas, podem causar delírios e alucinações de bastante intensidade. Conforme o usuário, a percepção desses efeitos pode depender da personalidade e do ambiente no qual é consumida.

Algumas plantas com propriedades anticolinérgicas são do gênero Datura, como a saia branca, a tromboteira ou a zabumba, plantas que produzem a atropina e a escopolamina. Os principais medicamentos anticolinérgicos são o tri-hexafenidil, a diciclomina e o biperideno. Os efeitos psíquicos podem durar até 2 a 3 dias.

Os principais efeitos físicos associados aos anticolinérgicos são midríase, taquicardia, boca seca, dificuldades com a micção e diminuição da motilidade intestinal. Em doses elevadas pode apresentar hipertermia de 40 a 41° C, convulsões, hiperemia (vermelhão) facial e no pescoço.

Estrutura química

Os alucinógenos são derivados de dois grupos químicos:

• Derivados da indolalquilamina, como, por exemplo, o LSD, a psilocibina e o DMT.
• Derivados da fenilalquilamina, como por exemplo, a Mescalina, o MDMA, o MDA.

Vias de administração

• O LSD é vendido sob a forma de mata-borrão, selos, estampas, tabletes, cápsulas ou cubos com açúcar. O uso intravenoso é mais raro.
• O DMT é um dos poucos alucinógenos que pode ser fumado, inalado e injetado.
• O MDMA é consumido sob a forma de cápsulas de grande porte, bastante coloridas, marcadas com o selo do fabricante, ou na forma de pó, que pode ser aspirado.

Duração de Ação

Os efeitos destas drogas no corpo humano duram, em média:

• LSD entre 6 a 24 horas
• Mescalina entre 2 a 6 horas
• DMT entre 1 e 2 horas
• MDMA entre 4 a 8 horas

Percepção dos Efeitos dos Alucinógenos

Por serem drogas alucinógenas, seus efeitos dependem de várias circunstâncias, podendo haver “boas viagens” ou “más viagens” as badtrips, à semelhança do que ocorre com a cannabis. Assim, é importante serem citadas as seguintes variáveis que contribuem para os efeitos das drogas no corpo humano:

• Personalidade prévia do indivíduo e sua sensibilidade individual à droga.
• Potência e pureza do alucinógeno
• Expectativas pessoais e o estado emocional do usuário
• Ambiente ou “o setting” em que se dá o uso da drogas

Alterações da sensopercepção causadas pelo uso de alucinógenos

Estas alucinações são na sua maioria visuais, com visualização de objetos cintilantes, brilhantes, bastante coloridos que se movem diante do usuário. Objetos movendo-se sob a forma de ondas, formas geométricas, figuras e algumas vezes de pessoas estranhas e objetos bizarros. Outros tipos de alucinações menos comuns são tácteis e auditivas

É importante lembrar que as distorções sensoperceptivas produzidas pelo uso de alucinógenos ocorrem sempre com um estado de consciência preservado, portanto, sem alterações dos níveis de consciência e de atenção.
Outras alterações sensoperceptivas compreendem percepção do tempo alterada, perda da sensibilidade na determinação de tempo e de espaço.

Reações Prolongadas pelo uso de alucinógenos

Os usuários crônicos, principalmente de LSD e MDMA, o ecstasy, podem apresentar algumas condições psiquiátricas induzidas pelo uso de alucinógenos, tais como:

• Estados psicóticos
• Estados ansiosos e depressivos
• Distúrbios de personalidade
• Distúrbios de sono

Já as principais alterações psíquicas associadas ao uso prolongado de alucinógenos são do tipo:

• Alterações sensoperceptivas
• Alterações comportamentais
• Alterações cognitivas
• Alterações afetivas
• Alterações do estado de consciência

Flashbacks

Os “flashbacks” são reações recorrentes, breves e transitórias, nas quais o usuário volta a viver distorções perceptivas parecidas àquelas que viveu em intoxicações anteriores, decorridas várias semanas, meses ou até anos após o último uso da droga. Essas experiências ocorrem de forma inesperada e imprevisível e causam prejuízo no funcionamento social, acadêmico e ocupacional dos usuários, mesmo se este não usou a droga nos últimos tempos.

Os “flashbacks” podem ser de 3 tipos:

• Flashback perceptual, que é caracterizado pelo aparecimento de imagens de formas geométricas, com cores brilhantes e fortes das imagens; percepção de halo em torno dos objetos.
• Flashback somático, que compreende a despersonalização do usuário.
• Flashback emocional, de cunho agradável ou desagradável, dependendo do conteúdo das experiências e das circunstâncias presentes. Podem ser também de cunho espontâneo, ou desencadeados pelo ambiente no qual o usuário está colocado, como, por exemplo, ao entrar num ambiente escuro, como quando usou a droga.

Efeitos Terapêuticos

O ministério da Saúde do Brasil não reconhece e não recomenda indicações clínicas para os alucinógenos. Sua produção e comercialização são proibidas em todo o território nacional.

Síndrome de Dependência

Até recentemente não era possível identificar uma dependência fisiológica ou a presença de “craving” com o uso de drogas alucinógenas. O uso destes tipos de drogas em longo prazo não era comum. Contudo, quando são empregadas com o objetivo de lidar com os “problemas da vida” podem levar a um padrão de uso compulsivo, caracterizando uma síndrome de dependência, com características das síndromes causadas pelas outras drogas de uso constante, como a cocaína ou a nicotina.

Felizmente a grande maioria dos usuários faz uso somente recreacional ou ocasional destas drogas. Mesmo entre os usuários crônicos o uso raramente é superior a duas a três vezes por semana.

Tratamento

É importante o terapeuta verificar se o uso de alucinógenos se dá junto com outras drogas de abuso. Este fato quase sempre é observado neste tipo de pacientes. Atualmente, já aparecem nos consultórios, pacientes abusadores apenas de alucinógenos, e é interessante que se providencie ao paciente todo o apoio que vai precisar, pois terá que deixar de lado o social em que tem vivido. Baladas e festas raves, amigos usuários, terão que ser deixadas de lado, e o paciente ser desafiado a viver uma nova vida sem drogas.

No caso de haver concomitância com comorbidades do tipo depressão, ansiedade, episódios maníacos, esquizofrenia, passa a ser necessário um tratamento medicamentoso do paciente. Pacientes intoxicados por drogas alucinógenas como MDMA, PCP ou LSD devem ser observados atentamente para que não entrem em hipertermia, pois, em muitos casos ela pode levar o paciente a óbito.