Dependência de Cocaína

A cocaína ressurgiu em nosso cotidiano nos últimos 20 anos.) O consumo da cocaína atinge hoje todos os estratos sociais. No Brasil, cerca de 2% dos estudantes brasileiros já usou cocaína pelo menos uma vez na vida [1].

O consumo da substância pode dar por qualquer via administração, com rápida e eficaz absorção pelas mucosas oral e nasal e pela via pulmonar.Escolhida. A dependência de cocaína pode desenvolver-se rapidamente após o início do uso devido à potente euforia produzida pela droga [2].

Esses fenômenos são todos influenciados pela via de administração.Indivíduos com dependência de cocaína geralmente gastam grandes quantidades de dinheiro com a droga e podem estar envolvidos em atividades ilegais para obtê-la. Obrigações como trabalho e cuidado com os filhos podem ser negligenciados.

Quais são as causas da dependência da cocaína?

O prazer é a maior força motriz de muitos de nossos comportamentos e consumir cocaína é uma das formas fáceis de obtê-lo. Conforme a tolerância à droga vai aumentando, torna-se necessário usar cada vez quantidades maiores dela para conseguir a mesma resposta eufórica. Suprimir ou reduzir a droga causa uma depressão e motivar o comportamento para obter a droga.

O sistema de recompensa do cérebro, um enorme número de feixe de fibras e conexões nervosas que produz uma enorme sensação de prazer, é ativado pela cocaína. É por esta razão que o indivíduo é tentado a voltar a consumi-la, tornando-se, assim, dependente da cocaína [3].

Manifestações agudas

Quadros agudos de pânico, os transtornos depressivos e os psicóticos agudos são os mais relatados. O prognóstico dos indivíduos portadores de comorbidades é mais comprometido.

Sintomas psiquiátricos

• Aumento do estado de vigília
• Euforia
• Sensação de bem-estar
• Autoconfiança elevada
• Aceleração do pensamento

Complicações clínicas do uso de Cocaína

• Aumento da frequência cardíaca
• Aumento da temperatura corpórea
• Aumento da frequência respiratória
• Sudorese
• Tremor leve de extremidades
• Espasmos musculares (especialmente língua e mandíbula)
• Tiques
• Midríase

O risco de infarto e arritmia são altos. A cocaína aumenta a frequência cardíaca e a pressão arterial. A toxicidade cardíaca é a principal causa de morte associada com uso de cocaína.

Sistema Nervoso Central

• Cefaléias
• Convulsões
• Acidente vascular cerebral
• Hemorragia intracraniana
• Hemorragia subaracnóidea

Aparelho Respiratório

• Broncopneumonias
• Hemorragia pulmonar
• Edema pulmonar
• Pneumomediastino
• Pneumotórax
• Asma
• Bronquite
• Bronquiolite obliterante
• Depósito de resíduos e Corpo estranho
• Lesões térmicas

Complicações psiquiátricas agudas

• Disforia (irritação)
• Ansiedade
• Agitação
• Heteroagressividade
• Sintomas paranóides
• Alucinações

OVERDOSE

Dentre as complicações agudas relacionadas ao consumo de cocaína, a overdose é a mais conhecida. Pode ser definida como a falência de um ou mais órgãos decorrentes do uso agudo da substância. Seu mecanismo de ação está relacionado ao excesso de estimulação cerebral.

A overdose de cocaína é uma emergência médica e por isso requer atenção imediata.

Tratamento da dependência da cocaína

Em primeiro lugar, o que é tratamento?

O tratamento da dependência de cocaína é o conjunto de medidas tomadas pelo médico e por sua equipe, no sentido de ajudar o dependente a ficar e a se manter abstinente da droga.Para conseguir um real afastamento da droga pode ser necessária a internação num hospital ou clínica de tratamento, onde os sintomas devem ser tratados sintomaticamente.

Por que tratar a dependência da cocaína?

O indivíduo dependente de cocaína acaba por sofrer problemas em praticamente todas as esferas de sua vida: afasta-se dos amigos e da família, sofre os problemas decorrentes do uso da droga. Pode ter problemas legais (por exemplo: prisão por roubo ou por porte de drogas), não consegue manter seu emprego.

Quem se beneficia do tratamento?

O indivíduo dependente de cocaína, sua família, as pessoas com quem vive e a Sociedade. O indivíduo dependente de cocaína é quem mais ganha com o tratamento.O tratamento depende da motivação do indivíduo para se tratar, da colaboração da família e da equipe que vai atendê-lo.

Quais são as razões para a procura de tratamento?

As pessoas que procuram tratamento para dependência de cocaína, em geral, são aquelas que apresentam uma série de problemas pela droga, sendo muitas vezes trazidas pela família e não admitindo o problema que têm com a droga. Esses indivíduos, com certeza, precisam de tratamento.

Como é o tratamento?

Etapa 1. Promoção de abstinência (desintoxicação)

Devido ao perigo de morte, pode ser necessário administrar-se medicamentos para diminuir a pressão arterial, diminuir a frequência cardíaca, evitar as convulsões e tratar a febre alta que costuma acompanhar o quadro clínico agudo. A abstinência da cocaína requer supervisão médica porque a pessoa pode tornar-se depressiva e mesmo suicida.

Etapa 2. Tratamento das complicações

Essa etapa ocorre ao mesmo tempo em que ocorre a primeira etapa, de promoção de abstinência.

São tratadas as complicações pelo uso da droga – por exemplo: o indivíduo dependente de cocaína pode apresentar crises de convulsão, alucinações, não conseguir dormir noites inteiras, etc. devendo receber, a depender do caso, medicação apropriada.

Etapa 3. Prevenção de recaídas

Nessa fase, o indivíduo dependente de cocaína já deve iniciar uma mudança em seu estilo de vida.

A equipe multidisciplinar, tenta abordar o indivíduo dependente e seu problema da forma mais completa possível.

A equipe multidisciplinar da Clínica de Recuperação Fiori é composta, além do próprio médico, por enfermeiro, psicólogos, terapeuta ocupacional, terapeuta familiar e educador físico.

Motivamos o indivíduo a manter o tratamento, abordamos problemas de sua vida (muitos deles decorrentes da droga) para ajudá-lo a planejar suas atividades, o terapeuta pode abordar problemas familiares decorrentes da droga. Há em cada uma dessas áreas, uma série de técnicas que pode ser aplicada por esses profissionais, no sentido de o tratamento funcionar da melhor maneira possível.

A Reabilitação é o resultado de todos os esforços combinados, em que o indivíduo dependente de cocaína passa a conduzir sua vida de outra forma, e a cocaína não mais participa.

Concluindo, a equipe multidisciplinar é importante no tratamento, que é difícil (mas não impossível!). Tudo dependerá, em essência, do indivíduo dependente de cocaína e de sua motivação para se tratar.

Dura toda a vida. O indivíduo nunca mais poderá usar cocaína, maconha, álcool e outras drogas, sob pena de voltar à sua antiga situação (muitas pessoas não devem nem querer lembrar disso). Deverá fazer uso do que aprendeu durante as outras etapas, devendo estar consciente de que nem sempre terá um médico por perto para ajudá-lo.

Como a família do dependente de cocaína pode ajudar?

A família pode ajudar complementando dados que o paciente dá ao médico, socorrendo o familiar nos momentos mais difíceis, ajudando-o no cumprimento do contrato terapêutico, lembrando onde tomar sua medicação (caso use) ou envolvendo-se em grupos de orientação contra as drogas na comunidade.

Lembremos que fazer tudo isso não é nada fácil, e por isso os familiares do paciente devem receber apoio da equipe terapêutica.

Quando internar?

A internação é necessária quando:

• O indivíduo dependente de cocaína fica perigoso para si e/ou para os outros (ex: fica agressivo(a), tenta o suicídio);
• Apresenta problemas clínicos ou psiquiátricos graves, exigindo cuidados intensivos;
• É incapaz de parar a droga, não conseguindo fazer o tratamento em Ambulatório.

Pacientes usuários de cocaína que são incapazes de quebrar o ciclo de uso intenso beneficiam-se do tratamento hospitalar, que os afasta do ambiente no qual a droga era usada.

Referências bibliográficas

1. Filhoa, O.F.F., et al., Perfil sociodemográfico e de padrões de uso entre dependentes de cocaína hospitalizados. Rev saude publica, 2003. 37(6): p. 751-9.
2. Sartor, G.C., et al., Epigenetic Readers of Lysine Acetylation Regulate Cocaine-Induced Plasticity. The Journal of Neuroscience, 2015. 35(45): p. 15062-15072.
3. Duailibi, L.B., M. Ribeiro, and R. Laranjeira, Profile of cocaine and crack users in Brazil. Cadernos de Saúde Pública, 2008. 24: p. s545-s557.